quarta-feira, 2 de novembro de 2011

O Ensino que Sonhamos

Por: Alexandra Guerra Castanheira
Precisamos de pessoas que nos ajudem a sonhar, como uma professora que tive chamada Andréa. Ela motivou a classe a pensar sobre o ensino que sonhamos para o momento em que vivemos. Em suas aulas, altamente fertilizadoras, ela regou as sementes de nossos sonhos na área da educação. Algumas das sementes já estavam dentro de nós, mas adormeceram, foram então regadas e despertadas... Outras, raquíticas se esforçavam para crescer... Algumas já existiam, foram adubadas e regadas, e assim, ganharam forças para crescer... Outras sementes que ainda não existiam, foram lançadas nas terras de nossos corações.
Quase todas as nossas realizações na vida começam com um sonho, pois, sonhar é a idéia fixa em algo. Sonhar é: prever, presumir, supor. Para as pessoas mais operacionais ficarem mais à vontade com este assunto, posso lembrar-lhes que sonhar é o primeiro passo para planejar e esquematizar. Se nós mantivermos a idéia fixa e andarmos na direção de uma educação melhor, então a sociedade poderá ser mudada a partir da educação. Se olharmos apenas para as mazelas da educação atual no Brasil, corremos o risco de nos mantermos imóveis e desanimados, pois há tanto o que fazer... Como nos adverte Gustavo Ioschpe. Para mudar a educação, seria necessário mudar o país. E como é impossível mudar o país sem mudar nossa educação, temos aí a receita para o imobilismo eterno. (1) A importância de refletir no ensino que sonhamos é que, isso regará nossas esperanças e nos moverá em direção ao alvo.
A matéria prima do educador é a esperança no ser humano. O homem está corrompido. O ser humano precisa ser restaurado. É com esta esperança na restauração humana, que nós educadores trabalhamos. Como Aristóteles, vejo a virtude como algo a ser trabalhado com muito esforço e possível de ser alcançada.
Aristóteles sustenta que a virtude é um hábito e, portanto, não só pode, mas também deve ser ensinada, constituindo-se talvez numa das tarefas mais importantes da educação do homem. Não será pequena a diferença, então, se formarmos os hábitos de uma maneira ou de outra desde nossa infância; ao contrário, será muito grande, ou melhor, ela será decisiva. (2)
A nossa prioridade neste mundo conturbado é educar visando à virtude na complexidade do ser. Entenda-se virtude como: tentar se aproximar do bem. Sonho com um ensino que invista nas relações interpessoais e que seja equilibrado. Quais são as características desse ensino? Ele é um ensino que equilibra: Conhecimento e sabedoria; fundamentação teórica e vivencia prática; informação e formação humana; um ensino que alcance a razão e a emoção, que valorize a linguagem científica e a poética; que equilibre o individual e o coletivo; um ensino de ciência e de senso comum. Ou seja, um ensino que vise à formação integral do ser humano.
As dificuldades certamente estão postas e outras virão. A maior ameaça que enfrentamos é manter a chama acesa dentro de cada um de nós, para não desistirmos quando os obstáculos se apresentarem. Se nos fortalecermos uns aos outros, enfrentaremos com ética e bravura as barreiras: das políticas educacionais, da falta de recursos e de valores sociais, a má qualidade do ensino, as deficiências da formação de professores, dentre tantas outras. Confessemos companheiros da educação: Para transpormos as barreiras citadas acima depende muito mais de cada um de nós, professores, do que de outros. A melhora da educação depende fundamentalmente de se investir em como se ensina. O educador exerce certo poder, e como todo poder pode ser usado para construir ou destruir. Para cultivar virtudes ou para matá-las.
O que faremos para construir o ensino que queremos? Assumiremos um compromisso, faremos uma aliança para educar com excelência! Esta tarefa não é apenas dos educadores ou do governo, é de todos nós, somente com a conscientização popular podemos alcançar resultados significativos. Para construir o ensino que queremos seremos o modelo. Já que o educador é um espelho, a mudança pode começar em quem ensina, e assim irem contagiando outros.
Para erguer o ensino que queremos acreditaremos nos alunos e nas sementes que o educador lança. O que mais faremos? Faremos como a professora Andréa, aquela que fertilizou meus sonhos sobre a educação. Lembrando que ela também é apenas uma educadora, como nós, então, regaremos as sementes de nossas mais altas esperanças e cuidaremos delas para que cresçam e frutifiquem em nossa nação. Faremos isso da mesma forma como cuidamos das plantas: idealizamos a planta que queremos, ou seja, sonhamos com ela. Preparamos a terra. Lançamos as sementes. Regamos e aguardamos a semente germinar. Esperamos, cuidamos, esperamos... Avistamos os primeiros sinais, nos alegramos. Regamos. Esperamos... Observamos a plantinha crescer. Cuidamos para não morrer. Apreciamos a beleza das flores, esperançosos de que logo virarão frutos. Emocionamos-nos com as flores! Sentimos seu perfume. Os frutos aparecem, colhemos e nos saboreamos com eles. Os frutos nos alimentam e dão forças para fazermos nova semeadura, e recomeçar o ciclo de vida. Quem educa, age no ciclo da vida!
Para alcançarmos o ensino que queremos, faremos tudo àquilo que depende nós. Como nos ensina um ditado popular: Se não podemos fazer tudo o que é preciso, precisamos fazer tudo o que podemos.
Alexandra Guerra Castanheira. E-mail: alexaguerra76@hotmail.com Autora do livro Infância: o melhor tempo para semear. Pedagoga e ministrante de cursos para educadores.
Referências bibliográficas (1) Analfabetismo e a inviabilidade do Brasil. Gustavo Ioschpe. In: http://www.reescrevendoaeducacao.com.br/pages.php?recid=22 Acesso em 11/04/06. (2) Ética a Nicômaco – A virtude é um hábito.Texto do célebre tratado aristotélico. Pg. 52, 53.